Caso Adriana Villela: relator vota para manter decisão de júri popular; julgamento é adiado
Ministro também votou para que Adriana seja presa imediatamente; ela foi condenada a 61 anos de prisão pela morte dos pais
Brasília|Giovanna Inoue e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília

O ministro Rogerio Schietti Cruz, relator do recurso de Adriana Villela, condenada a 61 anos de prisão por ter planejado a morte dos próprios pais em 2009 no caso que ficou conhecido como Crime da 113 Sul, votou contra o pedido de anulação do júri feito pela defesa dela. Além disso, o ministro foi a favor de que Adriana Villela seja presa imediatamente.
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Após o voto dele, o julgamento foi adiado por pedido de vista do ministro Sebastião Reis. Ainda não há data para a análise do caso ser retomada. Reis tem 60 dias para devolver o processo para julgamento, mas esse prazo pode ser prorrogado por mais 30 dias.
Segundo Schietti, a decisão do júri popular foi absoluta e não pode ser alterada. “O fato é que foram produzidas provas a permitir um julgamento hígido e a tornar legitimo o veredito alcançado pelos jurados”, pontuou o ministro, dizendo ainda que “não vejo qualquer possibilidade de rever o mérito”.
Para negar o pedido de anulação do júri, Schietti alegou preclusão — perda do direito de praticar um ato jurídico, ou por não ter sido exercido no prazo legal, ou por ter sido realizado de forma inadequada. Segundo ele, o “inconformismo e suposto prejuízo só estão sendo alegados agora”. Três ministros e um desembargador da Sexta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ainda precisam votar.
O advogado de defesa Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que o voto do ministro relator foi “muito técnico”, onde afirmou “por diversas vezes, por diversas formas, que não está comprovada, evidentemente, a responsabilidade da Adriana, mas que ele privilegia por uma opção pessoal que a soberania do júri nesse caso deve prevalecer”.
A defesa ressalta que espera que o placar final seja de quatro votos contrários ao relator.
Condenada a 61 anos de prisão
Villela foi condenada a 67 anos e seis meses de prisão em 2019 pelo tribunal do júri, mas teve a pena reduzida para 61 anos em 2022. Ela recorre da decisão.
Durante a sustentação oral no julgamento desta terça, a defesa de Adriana Villela criticou a condução das investigações feita pela polícia e afirmou que tinha provas para desmentir a afirmação de que a acusada estaria na cena do crime durante os assassinatos. “Quem foi condenada não foi Adriana Villela, foi a imagem de Adriana Villela”, disse o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
A defesa de Adriana apela pela anulação do júri que levou à condenação, com a determinação de um novo julgamento. A argumentação foi baseada em uma suposta irregularidade no corpo do júri — uma mulher selecionada teria problemas pessoais com o advogado de defesa — e a não apresentação dos vídeos para a defesa antes do julgamento, o que configuraria “cerceamento da defesa”.
Para o relator, os pontos levantados pela defesa deveriam ter sido feitos durante o julgamento ou dentro do prazo processual.
A acusação pede a prisão imediata da filha do casal morto, tendo como base um entendimento firmado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que autoriza a prisão imediata de condenados pelo tribunal do júri, mesmo que eles recorram da decisão — que é o caso de Adriana.
Relembre o crime
O assassinato do ministro aposentado do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) José Guilherme Villela, a esposa dele, Maria Villela, e a empregada doméstica Francisca Nascimento completou 15 anos em agosto de 2024. Em 31 de agosto de 2009, as vítimas foram encontradas mortas em um apartamento do bloco C da quadra 113 Sul. Os corpos tinham recebido, ao todo, 78 facadas.
A investigação foi cercada por interesse midiático e controvérsias. A delegada do caso, Martha Vargas, ouviu uma “vidente” como parte do inquérito, plantou e alterou provas, inseriu informações e declarações falsas que geraram relatório distorcido e incriminou inocentes. Em agosto de 2016, ela foi condenada a mais de 16 anos de prisão por falsidade ideológica, fraude processual, violação de sigilo funcional e tortura.
Na mesma época, o agente da Polícia Civil José Augusto Alves, que também participou das investigações do caso, foi condenado a três anos, um mês e dez dias de reclusão pela prática do crime de tortura.
Após a troca no comando das investigações e depois de mais de um ano de apuração, foram presos por confessar o triplo assassinato:
- Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde o casal morava;
- Paulo Cardoso Santana, sobrinho de Leonardo; e
- Francisco Mairlon Barros Aguiar.
Em 2012, os assassinos confessos do casal e da empregada doméstica foram condenados a 55 anos de prisão pelo júri popular.
Dez anos depois do crime, a filha do casal, Adriana Villela, foi condenada por ser a mandante. O julgamento dela foi o mais longo da história do Distrito Federal. Ele começou em 23 de agosto de 2019 e durou dez dias, com um total de 103 horas.