Gottino: 'Não deixe a Record TV saber que, além de tudo, ainda me paga para eu me divertir e ser feliz'
Apresentador repassa sua trajetória, lembra a fase inicial como office boy, conta histórias saborosas com bom humor e destaca episódios emocionantes no programa líder das tardes
Entrevista|Eduardo Marini, do R7
Poucos profissionais da televisão brasileira têm a capacidade de expressar sinceridade como o jornalista, narrador e escritor paulista Reinaldo D’Agostino, 45 anos, o Reinaldo Gottino. Ao lado de Fabíola Reipert e Renato Lombardi, Gottino apresenta o Balanço Geral, na RECORD TV, um dos maiores e mais consolidados sucessos da televisão brasileira.
Nesta conversa com o R7 ENTREVISTA, Gottino dá detalhes sobre sua trajetória familiar e profissional, conta histórias saborosas e lembra passagens emocionantes do Balanço Geral nas tardes brasileiras. Programão de variedades com sucesso garantido. Acompanhe:
Fale um pouco sobre suas origens familiares.
Reinaldo Gottino — Sou filho de pai italiano, Vincenzo, vendedor de carro, e mãe brasileira, Terezinha, cabeleireira. Tenho uma irmã mais velha, Roseli, professora aposentada e hoje fazendeira em Tupã, no interior de São Paulo, e tinha outra, Rosemeire, atriz e publicitária, que morreu de câncer há cinco anos. Faria agora 50 anos. Sou casado com a Simone Chimenti e tenho dois filhos: Rafael e Giovana. Fui criado na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo. Minha mãe me deu um radinho de pilha quando eu tinha 12 anos e me apaixonei pelo rádio muito cedo. Gostava de dormir ouvindo rádio. Uma amiga de minha irmã começou a trabalhar na Rádio Imprensa, e eu pedi a ela que me levasse nos fins de semana. Ajudava a sortear prêmios, atender telefonemas. O locutor faltou em um dia e me colocaram para ler um texto.
E aí?
Gostaram, fiquei empolgado, deixei a função de office boy do Banco Econômico, que depois fechou, fui estudar jornalismo e não deixei mais a profissão. Trabalhei na CBN, na TV Gazeta, até que, em 2005, a RECORD TV me chamou. Aqui vivi — e ainda vivo — experiências incríveis. Estou muito feliz no Balanço Gerale, sobretudo, nesta casa. Saí recentemente, por um tempo, foi uma experiência importante, mas voltei porque senti saudade e a RECORD TV me complementa. Acho que todos percebem isso. Não são apenas telespectadores. Temos companhias diárias.
Você pensou em desistir do Balanço Geral. Como foi essa história?
Assumi o Balanço Geral em 26 de maio de 2014. Um grande desafio. Passaram-se alguns meses e a audiência ficou estagnada. Pedi uma reunião com a direção da Record e entreguei o boné. Disse: “Peço desculpa a vocês, mas não estou conseguindo fazer a coisa virar. Coloco agora meu cargo à disposição. Se quiserem me substituir, não terá o menor problema”. Eles foram compreensivos, disseram que estavam gostando do programa, a coisa iria pegar e eles estavam comigo. E, de fato, o programa começou a andar pouco depois dessa conversa. Assumimos a liderança no horário, um caminho bem vencedor. Foi um ano difícil. Assumi o programa com a Copa do Mundo no Brasil, sem transmissão nossa, seguida de férias escolares e eleição, com horário político bem na hora do programa. O desafio foi complicado, mas felizmente vencemos.
Bela demonstração de honestidade profissional.
Obrigado. Se algo não está dando certo, das duas uma: ou dá audiência ou a empresa precisa gostar muito do produto. Foi legal porque eles confiavam no produto inicialmente e depois veio a audiência, fechando o ciclo.
Senti uma pontada muito forte%2C às 9 da manhã%2C e%2C depois%2C uma dor no peito. Às 11 da manhã%2C quando me preparava para entrar no ar%2C as dores ficaram fortes. Falei para a turma que era melhor pedir ajuda porque estava doendo muito. Levaram-me para o Hospital Moriah%2C em São Paulo%2C de uma excelência absoluta. Fui maravilhosamente bem atendido. O problema não era no coração. Tive uma inflamação na parede do esôfago. Graças a Deus%2C não era nada grave%2C mas foi um susto grande
Fale sobre o episódio em que você passou mal e foi conhecer um ótimo hospital de São Paulo.
Estava trabalhando. Primeiro, senti uma pontada muito forte, às 9 da manhã, e, depois, uma dor no peito. Às 11 da manhã, quando me preparava para entrar no ar, as dores ficaram fortes. Falei para a turma que era melhor pedir ajuda porque estava doendo muito. Levaram-me para o Hospital Moriah, em São Paulo, de uma excelência absoluta. Fui maravilhosamente bem atendido. O problema não era no coração. Tive uma inflamação na parede do esôfago. Graças a Deus, não era nada grave, mas foi um susto muito grande.
E a história do traseiro quase de fora nos tempos de office boy?
Naquele período, muito office boy descia do busão pela traseira para não pagar. Eu não fazia isso porque sempre fui meio estabanado. Achava que iria dar errado. Mas naquele dia eu tinha sete viagens a fazer. Fiz as contas e vi que poderia guardar uma grana saindo pela traseira. Fiquei tentado. Na primeira que fui descer era um ônibus elétrico, na avenida Paes de Barros. Minha calça enroscou em um parafuso do busão na hora da descida. Rasgou tudo, e eu fiquei com o traseiro exposto na rua. Tive que tirar a camisa e amarrá-la atrás para não passar vergonha. Paguei uma b… básica (risos). É o que o brilhante Ariano Suassuna falou: tudo o que é bom e divertido de contar é ruim de passar (risos).
Você é bom de história. Conte outra.
Lembro-me de uma quando já trabalhava com rádio. Trabalhava em uma que levou os estúdios para Jundiaí, cidade próxima a São Paulo. Eu era o locutor da meia-noite e estava fazendo faculdade durante o dia, aquele cansaço todo. Uma amiga, Soraia, me dava uma carona até o Terminal Rodoviário do Tietê, na zona norte de São Paulo. De lá, pegava o busão às 11 da noite e, 50 minutos depois, na média, chegava à rádio em Jundiaí. Rapaz… um dia, eu, cansadão, passei do ponto. O ônibus foi para a rodoviária de Jundiaí, seguiu depois para a garagem e ninguém me viu. Fui acordar às duas e meia da manhã, com o cara lavando a janela do busão. Aquele jato de água. Imagine o humor do locutor que estava me esperando desde a meia-noite para eu entrar em seu lugar? O cara ficou uma arara, queria me matar, mas é meu amigo até hoje. Fazia locução de madrugada e um monte de coisas à noite, além de estudar. Não conseguia dormir.
Você escreveu dois livros. Fale sobre eles.
Foi um prazer contar em livro a minha história, de um garoto de classe média baixa, que estudou sempre em escola pública. A gente sabe que não é fácil, mas o livro mostra que é possível a vida, de um jeito ou de outro, com luta, sorrir para todo mundo. Na minha rua não havia essa cultura de fazer faculdade, graduação, e eu, com sacrifício, consegui me formar.
Dormi no ônibus%2C que foi para a rodoviária de Jundiaí%2C seguiu depois para a garagem e ninguém me viu. Fui acordar às duas e meia da manhã%2C com o cara lavando a janela do busão. Aquele jato de água. Imagine o humor do locutor que estava me esperando desde a meia-noite para eu entrar em seu lugar%3F O cara ficou uma arara%2C queria me matar%2C mas é meu amigo até hoje. Fazia locução de madrugada e um monte de coisas à noite%2C além de estudar. Não conseguia dormir
Vida dura.
Exatamente. Não passei fome, não tenho tragédias pessoais a contar, mas tive dificuldades na batalha, uma vida simples que fui superando com trabalho e paixão pela profissão. Nunca fui playboy. Virei office boy aos 14 anos. Ônibus para cima e para baixo. Recebi muitos retornos de pessoas que se identificaram com a história. O outro livro é sobre a história de vida da empresária cearense do ramo de comércio de móveis Josefa Adecilda Silva de Araújo, radicada em São Paulo, conhecida pelo nome profissional e artístico Sylvia Design, também o nome de suas lojas. Foi uma experiência muito bacana. Ela é uma mulher batalhadora, que veio do Nordeste em busca de oportunidade e se transformou em uma grande empresária e, acima de tudo, em um grande case de marketing.
Dá para sentir no Balanço Geral, que você, Fabíola Reipert e Renato Lombardi se divertem, se emocionam e, acima de tudo, se entendem muito bem…
Fico muito feliz com sua observação porque é a mais pura verdade. Temos uma química boa, nos damos bem e a relação é ótima. Não deixe a RECORD TV descobrir que ainda paga para a gente se divertir e ser feliz (risos). Acabamos de trazer uma história que deverá ser a maior da televisão brasileira neste ano.
Qual?
Uma senhora procurava pela mãe biológica de seu filho, adotado há 41 anos, que tem câncer e está no hospital esperando um doador de medula compatível. A fila para encontrar compatibilidade demora anos, e ele não teria tempo suficiente. A senhora queria encontrar a mãe e a família biológicas para resolver a questão em tempo. Colocamos a história no ar e encontramos a família. A mãe biológica morreu, mas teve sete filhos. Todos vão fazer o teste de compatibilidade. Ao menos um deles deverá ser compatível. Deus vai ajudar.
Com certeza. Muito obrigado.
Papo bacana. Eu agradeço.