Brasília 65 anos: conheça os finalistas do concurso que escolheu projeto de Lucio Costa
Grandes áreas circulares e prédios com mais de 300 metros de altura estavam entre propostas
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Em setembro de 1956 foi lançado o concurso nacional para escolher o projeto de construção de Brasília. O edital estipulava a criação de um traçado básico da cidade, além do dimensionamento da infraestrutura urbana e algumas projeções de desenvolvimento socioeconômico do Entorno. A proposta deveria ser entregue até 11 de março de 1957 pelos concorrentes. Ao todo, o concurso recebeu 26 projetos. Destes, o urbanista Lucio Costa foi o vencedor, mas outros três projetos foram finalistas: um em segundo lugar e dois empatados em terceiro (veja abaixo).
Ao contrário do avião que é hoje a capital, os outros planejamentos previam grandes áreas circulares e até mesmo prédios de mais de 300 metros de altura. O R7 foi atrás de especialistas para comentar os bastidores deste concurso e os diferenciais que garantiram a vitória à Lucio Costa.
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O historiador do Arquivo Público do Distrito Federal, Elias Manoel da Silva, conta que no começo a ideia era que o projeto urbano fosse feito por Oscar Niemeyer. “JK (Juscelino Kubitschek) pede para Oscar Niemeyer fazer um projeto urbano da cidade. O contexto era de pressa, porque ele queria inaugurar a capital em 21 de abril de 1960. Mas Oscar não aceita. Ele diz que se encarregaria dos prédios arquitetônicos públicos, mas não do projeto público da cidade”, conta.
É Oscar Niemeyer que sugere a criação de um concurso público, mas com uma ressalva: participação exclusiva de arquitetos e engenheiros brasileiros. “A exceção de estrangeiro foi aberta apenas para os jurados, que eram pessoas com reconhecimento internacional”, diz Silva. O júri foi composto por Israel Pinheiro, Oscar Niemeyer, Luiz Barbosa e Paulo Antunes, que eram brasileiros, e William Holford, André Sive e Stamo Papadaki, estrangeiros.
O historiador do arquivo público conta que Lucio Costa montou um projeto com menos de 30 páginas datilografadas, o que deu problema com os jurados. “Outros participantes fizeram livros, estudos aprofundados e maquetes enormes do projeto. Mas no edital pedia linhas conceituais e aspectos importantes na proposta do Plano Piloto. Então, nesse ponto, Lucio Costa foi certeiro na apresentação breve de conceitos da cidade”, explica.

O projeto do arquiteto e urbanista é escrito de forma prática, facilitando a simples compreensão dos jurados, o que segundo Silva facilitou até mesmo que eles compreendessem o projeto. “Um dos jurados falou que o projeto de Lucio Costa foi a maior contribuição urbanística do século XX”, cita Silva.
Brasília nasce brasileira
O historiador reforça que como a participação era vedada a profissionais brasileiros, a capital do país nasce “brasileira, se alimentando da própria brasilidade”. Na ata de escolha do projeto de Lucio Costa, os jurados avaliam que o arquiteto conseguiu fazer uma síntese de Brasília não alcançada nos outros projetos.
“Ele [Lucio Costa] oferece uma cidade urbana com uma genética, com uma identidade de capital. Ele consegue fazer que a cidade seja um projeto de uma capital de um país continental O projeto não podia ser simplesmente uma cidade fácil e moderna para se locomover. E o Eixo Monumental deu uma síntese, trouxe uma identidade para a capital. Lucio Costa faz uma cidade funcional”, pontua.
Brasília, a história antes da história
Luce Costa/Arte R7
Na avaliação do historiador, Brasília se torna não apenas uma cidade para se morar, mas uma cidade com plasticidade. Silva cita, no entanto, um outro personagem da construção de Brasília que costuma ser esquecido. “Lucio Costa não quer executar o projeto. Ele indica para a Novacap Augusto Guimarães Filho, que já tinha trabalhado com ele no Rio de Janeiro. É Augusto Guimarães Filho que executa esse trabalho arquitetonicamente. Lucio Costa é o inventor de Brasília, mas Augusto é o executor de Brasília, não muito valorizado na história da capital”, observa.
Diferenciais do projeto de Lucio Costa
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Eduardo Pierrotti Rossetti diz que o Plano Piloto proposto por Lucio Costa tinha uma diferenciação evidente em relação aos projetos concorrentes.
“Ele tinha caráter e tinha domínio de uma cidade pensada para ser capital de um país. Não era apenas um plano de uma cidade, era um plano para uma capital. Lucio Costa vira o desenho para favorecer a percepção da figura, da forma urbana do Plano Piloto, um conjunto definido a partir dos dois eixos. É justamente a marcação gráfica desses dois eixos que vai gerar um sistema viário e um tecido urbano subordinado a eles, que por sua vez estão condicionados à condição geográfica onde a cidade foi implantada”, explica.
Na avaliação do professor da UnB, os outros projetos têm coisas interessantes e pertinentes à reflexão e ao debate do urbanismo nos anos 50. “Eles têm especulações urbanísticas, mas nenhuma delas tinha essa vocação de ser cidade capital”, observa. “Outro item, que é a grande novidade, é a invenção da superquadra, uma escala de ocupação territorial para prover habitação a todos”, diz.
Pierrotti Rossetti explica que na época todos os participantes do concurso tinham as mesmas referências históricas e historiográficas. “A matéria-prima era a mesma para todos, a caixa de ferramenta era a mesma, a questão é como cada um ia usar o repertório. Tem propostas que afastam a cidade do Lago e outros que o aproxima, por exemplo”, cita.
Para o professor de Arquitetura e Urbanismo, o Plano Piloto de Lucio Costa traduz no texto a vitalidade urbana. “O território era vazio para qualquer tipo de invenção urbana, não havia uma referência prévia de ocupação que definisse qualquer coisa, a grande referência território é o lago que não existe, ainda. Os projetos lidam com um lago hipotético, que também é parte interessante do projeto de uma cidade capital”, menciona.
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