Não há mandante nem organização criminosa por trás das mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira, diz PF
Corporação informou que há indícios de mais pessoas envolvidas no crime e que as buscas pelo barco utilizado por eles continuam
Brasília|Lucas Nanini, do R7, em Brasília
A Polícia Federal do estado do Amazonas informou que não há “mandante nem organização criminosa por trás” das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Os dois foram assassinados na região do Vale do Javari, no extremo oeste do estado do Norte. Os corpos foram encontrados na última quarta-feira (15), 11 dias após o desaparecimento dos dois.
“As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito. Por fim, esclarece que, com o avanço das diligências, novas prisões poderão ocorrer”, anunciou a corporação.
As buscas pela embarcação utilizada por Bruno Pereira e Dom Phillips continuam, segundo a corporação. Os trabalhos contam com apoio dos indígenas da região e dos integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava). A PF informou que "há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa".
A confirmação de que "remanescentes humanos" haviam sido encontrados durante as investigações foi anunciada pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, nas redes sociais. Segundo a Polícia Federal, Amarildo dos Santos, um dos pescadores detidos, confessou ter matado Dom e Bruno, esquartejado os corpos e ateado fogo neles. Ele também indicou a área onde estavam os corpos, a mais de 3 km do local do crime.
Policiais foram ao local e encontraram os remanescentes humanos. Após encontrar os restos mortais nos locais onde buscavam o jornalista e o indigenista, no Vale do Javari, no Amazonas, a PF se concentra agora em descobrir a dinâmica do crime.
Também está preso o pescador Osoney da Costa, irmão de Amarildo. Os dois foram vistos por testemunhas perseguindo a lancha dos profissionais.
O crime
Dois pescadores confessaram ter matado Bruno Pereira e Dom Phillips. As diligências, que até agora se concentravam nas buscas, passam a focar a autoria e a motivação do crime. O avião com os restos mortais encontrados nas buscas chegou a Brasília por volta das 18h40 desta quinta-feira (16). Os corpos foram transportados de Atalaia do Norte (AM) para o Instituto de Criminalística da Polícia Federal, na capital, onde vão passar por perícia. Os exames devem ser realizados em até sete dias, e os laudos deverão ser apresentados na próxima semana.
Segundo o chefe da PF, Eduardo Fontes, o suspeito informou que o barco em que viajavam o jornalista e o indigenista tinha sido afundado e que o local onde os corpos foram enterrados era de difícil acesso, a mais de 3 km da margem do rio Itaquaí. "Demoramos a conseguir chegar ao local. Não há contato telefônico na área. Lá foram encontrados remanescentes humanos, e as escavações ainda estão sendo realizadas", disse.
Perseguição
Uma testemunha ouvida sob a condição de anonimato pela PF relatou ter visto uma lancha onde estava Dom e Bruno passando pelo Rio Taquaí. Em seguida, outra embarcação, que levava Amarildo dos Santos, passou em alta velocidade em direção aos profissionais. O depoimento foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Para os investigadores, a declaração revela que a intenção de matar as vítimas pode ser bem anterior ao momento dos homicídios e ter sido planejada, ao contrário do que alegam os suspeitos em depoimento.
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Sangue e vísceras
Na sexta-feira, o laudo preliminar concluiu que o sangue encontrado na lancha onde estava Amarildo não é de Dom Phillips. A análise comparada com o material genético do indigenista Bruno Pereira apresentou resultado inconclusivo. A PF terá de realizar novos exames para descartar ou confirmar que seja sangue de Pereira — o que indicaria que as agressões começaram ainda dentro da embarcação, no caminho para o local onde ocorreram os homicídios.
Vísceras encontradas na região, que seriam um estômago, não contêm DNA humano, de acordo com os investigadores. O resultado pode ter sofrido interferência da degradação do material biológico, pela ação do ambiente em que ficou exposto e do tempo entre a retirada do corpo até o momento em que foi encontrado e levado para perícia. Ainda é necessário entender se realmente é ou não um órgão humano.