Entenda como mudanças nos ministérios podem consolidar base de Lula no Congresso e veja cotados
Deputados também reivindicam recuperar domínio do extinto orçamento secreto; Lula avalia pedidos para estancar críticas
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Em busca de construir uma base consolidada no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já admite promover mudanças nas lideranças de pastas da Esplanada. Ministérios como Turismo, Comunicações e até mesmo Saúde estão no radar dos parlamentares integrantes do chamado centrão. Nomes como os deputados Celso Sabino (União-PA) e Fernando Marangoni (União-SP) estão entre os cotados para integrar o governo.
As conversas ainda serão intensificadas ao longo das próximas semanas. Mas o sinal verde para mudanças veio a partir do café da manhã de Lula com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no início da semana. Na ocasião, Lira voltou a cobrar uma articulação mais forte por parte de Lula e tirou o corpo da missão de defender pautas do governo para o governo sem contrapartida. "Há uma insatisfação generalizada dos deputados com a falta de articulação do governo", disse Lira recentemente.
É a partir de troca de cargos e liberação de emendas que o governo tenta construir apoio dentro do Congresso, movimento que começa a ganhar mais força após as semanas turbulentas que demonstraram a fragilidade da base governista.
Troca de comando
A atuação dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) tem sido alvo de crítica de parlamentares, mas não são essas cadeiras que estão na mira. Lula busca atrair o centrão, grupo político que tem sido decisivo nas votações legislativas. A sinalização mais pacificada é a troca da ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
Daniela é considerada distante da bancada do União, com expectativa de, inclusive, abandonar o partido e migrar para o Republicanos. Além disso, a pasta atrai atenção pelo reforço financeiro que geralmente recebe por emendas parlamentares, sobretudo para financiar eventos.
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Por isso, o União já trabalha com outro nome para a cadeira: o deputado Celso Sabino (PA). A troca atende a um pedido do líder do União na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (BA), que esteve reunido com Lula recentemente. Também há aval do presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE), e de outros parlamentares da bancada.
Com Sabino no Turismo, já há um compromisso de trazer apoio para o governo em votações importantes na Câmara. O deputado tem uma articulação forte com os colegas do União, diferentemente de Daniela, que mantém um núcleo com cinco deputados da legenda e, ainda assim, não tem conseguido reverter a aliança em votos.
O Ministério das Comunicações também é uma possibilidade. O deputado Fernando Marangoni (União-SP) é aventado. Ele é considerado um pacificador entre os parlamentares e ganhou destaque com aliados do governo pela relatoria da medida provisória do Minha Casa, Minha Vida.
Porém, ao contrário de Daniela, o ministro Juscelino Filho (Comunicações) tem a simpatia de Elmar Nascimento e do próprio Marangoni, o que traz um cenário mais nebuloso sobre a mudança. O ministro também é indicação do senador Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, portanto, responsável por pautar a sabatina do advogado Cristiano Zanin para a cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF). Somente quando houver uma definição na mesa é que o cotado vai, de fato, avaliar se assumirá o cargo.
Mas é o Ministério da Saúde que o grupo do centrão mais pleiteia. O nome ventilado é o deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), correligionário de Lira. Lula, no entanto, não quer abrir mão de Nísia Trindade.
Nesta quarta-feira (7), inclusive, o presidente elogiou a atuação da ministra. "Nísia não é médica, é cientista política, é socióloga. E ela veio trabalhar na Saúde como ministra porque a experiência dela como presidente da Fiocruz foi excepcional. E eu precisava de alguém mais do que médico, que tivesse a sensibilidade de saber como vive o povo mais humilde."
Em contrapartida à negativa, Lula deve abrir a possibilidade de indicação de nomes para outros cargos na Saúde. A ideia é atrair o apoio do PP e de outros partidos de direita. Nos bastidores, lideranças do PP já manifestam o interesse em uma cadeira de visibilidade, sustentando o apoio ao governo para aprovar medidas provisórias importantes.
Articulação
Após semanas difíceis para o governo no Congresso em termos de votações e mirando outras aprovações importantes que estão por vir, Lula já iniciou um movimento para encabeçar articulações e se encontrou com lideranças partidárias do Senado.
Mas é com a Câmara que o presidente enfrenta o maior gargalo. Foram os deputados que aprovaram, em caráter de urgência, o projeto de lei sobre o marco temporal, contrariando a agenda política do governo, barraram mudanças feitas pela atual gestão no marco do saneamento básico e tumultuaram a votação da medida provisória que reorganiza os ministérios, aprovada no último dia de validade pelo Congresso.
Agora, o chefe do Executivo pretende encontrar lideranças da Câmara nas próximas semanas para afinar as relações, ouvir os deputados e buscar apoio. Já na segunda quinzena de junho, Lula deve reduzir o ritmo de viagens e se concentrar em "arrumar a casa", nas palavras de um ministro do governo. A agenda, segundo essa fonte, deve contar com reuniões com parlamentares de diversos partidos e bancadas.
O governo ainda tem em caixa R$ 31,5 bilhões em emendas para gastar em 2023. Até maio deste ano, foram gastos R$ 5 bilhões, incluindo o recorde de R$ 1,7 bilhão em um único dia.
Os parlamentares tentam recuperar o domínio do extinto orçamento secreto, com quase R$ 10 bilhões, que agora estão nas mãos do Executivo. Não há indicação, por parte do governo, de abrir mão desse controle.