Em nota, Brasil ‘lamenta’ taxas de Trump e considera tarifas ‘injustificáveis’ e’ equivocadas’
Medidas do presidente dos EUA começaram a valer para todos os países nesta quarta; Brasil cogita acionar a OMC
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O governo brasileiro criticou nesta quarta-feira (12) a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 25% os produtos de aço e alumínio importados pelos norte-americanos. Em nota, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a destacar que o comércio com o Brasil é superavitário para os EUA. O Executivo não descarta recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra as tarifas de Trump, que começaram a valer nesta quarta.
“Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países”, diz trecho da nota, assinada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e pelo Ministério das Relações Exteriores (leia o texto completo abaixo).
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A OMC, da qual Brasil e EUA fazem parte, é um organismo multilateral responsável por regular o comércio entre os países membros.
A possibilidade de recorrer à organização foi destacada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin nesta quarta. Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem liderado as conversas sobre o tema com o governo norte-americano. A principal aposta do Executivo brasileiro é tentar reverter as taxas por meio do diálogo e da diplomacia.
“É uma possibilidade”, destacou o vice-presidente sobre recorrer à organização. “Nós defendemos multilateralismo, nós defendemos complementação econômica, e a OMC existe para isso, para estabelecer regras que devem ser regras gerais para todos”, afirmou.
O vice-presidente também não descarta recorrer a “outras medidas”, embora não tenha detalhado quais. “Isso encarece produtos e dificulta o comércio. [Foi uma] medida tomada de natureza unilateral, e o Brasil avaliará também outras medidas a serem tomadas”, acrescentou.
Alckmin voltou a destacar que o Brasil não é um “problema” para os EUA. “A medida não foi tomada contra o Brasil, foi estabelecida para o mundo inteiro. O governo brasileiro se manifestou [em nota] lamentando profundamente esse fato. Porque, primeiro, o Brasil não é problema para os Estados Unidos. Eles têm um superávit produtivo [em relação ao Brasil]. Segundo dados deles, superou em US$ 7 bilhões só em bens, fora a área de serviços. No caso do aço, que pega a indústria, nós somos o terceiro comprador de carbono siderúrgico dos Estados Unidos. Fazemos o semielaborado e exportamos para os Estados Unidos. Então, é uma complementariedade na indústria. Você compra o carbono siderúrgico, faz o semielaborado e vende para os Estados Unidos fazer o elaborado”, explicou.
O vice-presidente também reforçou o posicionamento brasileiro em relação ao assunto. “A disposição, primeiro, é de diálogo. No diálogo, nós devemos, nas próximas semanas e dias, aprofundar esse trabalho junto aos Estados Unidos e lamentar profundamente”, completou.
Nota do governo brasileiro
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 12 de março, de elevar para 25% as tarifas sobre importações de aço e de alumínio dos EUA provenientes de todos os países e de cancelar todos os arranjos vigentes relativos a quotas de importação desses produtos. Tais medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.
Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países. Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens.
No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semi-acabado para aquele país (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana.
À luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras, o governo do Brasil buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos. Em reuniões já previstas para as próximas semanas, avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio.